Conselheira eleita da Previ faz alerta sobre patrimônio dos Fundos

Em artigo de Sergio Barreto Motta sobre a atual tensão nos fundos de pensão, veiculado no jornal Monitor Mercantil, o jornalista cita comentário da conselheira eleita pelos participantes da Previ, Cecília Garcez. A conselheira, em resposta à nota publicada pela Previ - a qual lamenta não terem sido os conselheiros aliados do governo convidados a assinar o  manifesto do dia 12, que mostrava preocupação com o dinheiro dos fundos -, ressalta a necessidade de proteger o patrimônio dos fundos contra ações governamentais.



"O ambiente está tenso nos fundos de pensão, notadamente nos mais opulentos, como Previ - onde associados se mostram contrários à resolução 26, que permite ceder metade do superávit ao patrocinador Banco do Brasil - e na Petros, onde houve déficit no último exercício. O ambiente é delicado no Postalis, onde a associação de empregados formalizou sua preocupação junto à Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc).

A Previ é líder nacional, com 200 mil associados - que chegam a quase 1 milhão, com dependentes. Foi criada em 1904, antes da previdência oficial, mas, ultimamente, os beneficiários vêm-se insurgindo contra atos do governo. A 12 de novembro, o grupo da Anabb que elegeu conselheiros independentes lançou manifesto, mostrando preocupação com o dinheiro dos fundos, que terá de suprir aposentados e pensionistas por longo tempo. Dois dias depois, a Previ publicou a nota "Seriedade e mais respeito com a Previ", informando ser o fundo exemplo de gestão corporativa e lamentando não terem sido os conselheiros aliados do governo convidados a assinar o  manifesto do dia 12.

Em resposta, Cecília Garcez, conselheira eleita pelos colegas, para justificar a exclusão dos conselheiros ligados ao governo, citou Mateus, em capítulo 6, versículo 24, no qual reproduz ensinamento de Jesus, de que não se pode servir a dois senhores. Garcez afirmou que tais conselheiros, por sua atuação, não são independentes e frisa que o objetivo dos conselheiros independentes é o de proteger o patrimônio dos fundos contra ações de governo, "quaisquer governos". No meio, também há críticas à Previc, por sua morosidade em atender a reclamações dos usuários e de entidades do setor.

Um fato que chama a atenção dos analistas, no caso dos fundos, é a visão apolítica da questão. O Partido dos Trabalhadores (PT) sempre obteve amplo apoio junto ao pessoal das estatais. No entanto, o que está em jogo não é apoio a governo ou oposição, mas preocupação com o futuro, de viés puramente patrimonial. Muitos conselheiros que hoje acusam o governo de não cuidar corretamente dos saldos dos fundos são ideologicamente mais ligados ao PT, mas não querem misturar simpatia política com correção na gerência dos bilionários recursos dessas entidades.

O dinheiro dos fundos não é do governo nem de gestores eventuais, mas
pertence a atuais e futuros beneficiários dos investimentos acumulados com muito suor através de décadas a fio. Com relação ao patrimônio, a alta dos juros ajuda os fundos a obterem bons lucros e em parte compensa as pesadas perdas registradas na Bovespa."

(Sergio Barreto Motta - Jornal Monitor Mercantil)