Aposentadoria só no papel

Há mais de 20 anos, Ezequiel Pinto Dias está aposentado, pelo menos formalmente. Mas, de fato, nunca parou de trabalhar, e ainda não pensa nisso. Confira o que nos contou esse apaixonado pelo trabalho.

Há quanto tempo o senhor está aposentado?
Ezequiel Pinto Dias:
Ih, nem sei, muito tempo, acho que quase 20 anos. Na verdade eu nunca parei. É que na ocasião da aposentadoria eu estava cedido ao Dataprev, de onde surgiu o DATASUS, de cuja criação participei, e continuei trabalhando lá, ora por convênio, depois como coordenador geral da área de Informações em Saúde e agora através de uma terceirizada. Não tive que procurar emprego nem nada disso, foi uma continuidade.

E o senhor não pretende se aposentar?
Ezequiel:
Não penso nisso. Não posso me imaginar em casa, de pijamas. É claro que adoro ficar com a  família, mas o que faço é útil para muitos. Ajudei a criar o DATASUS e continuo neste projeto.

Quando o Serpros foi criado, eu tinha o quê? uns 29 anos, e o Serpros vendia o peixe de segurança na aposentadoria. Eu cheguei a argumentar no Serpro que a ideia não deveria ser essa, não era efetiva porque os mais jovens não se enxergam aposentados. A complementação da aposentadoria é importante, mas acho que deve ser vista mais como um seguro de vida para o cônjuge, porque disso ninguém está livre. Se eu ainda tenho dificuldades de me ver aposentado...

Mas o senhor não sente falta de descansar, de ter mais tempo? Sua carga de trabalho continua a mesma?
Ezequiel:
Engraçado, isso eu sinto. Trabalho em horário integral, o tempo é restrito, a sensação é de que as férias são poucas. Sei que é uma incoerência, mas sinto assim. Para me divertir, não tenho assim um hobby, mas gosto de ler, agora até com esses mecanismos mais sofisticados, como o iPad, e assistir a filmes, tarefa também facilitada com os novos serviços de distribuição.

E sobre o SERPRO e a ASPAS,  alguma observação ou comentário?
Ezequiel:
Foi um privilégio trabalhar no SERPRO, participando de um esforço de vanguarda de se criar uma Informática nacional e levar eficiência aos órgãos do governo, assim como a DATAPREV e, à época, a COBRA. No SERPRO, fizeram-se também muitas coisas na área da tecnologia e da disseminação de informações públicas ainda no tempo da ditadura, o que exigia coragem e visão de futuro.

Quanto à Associação, eu gostei da atuação da ASPAS sobre as denúncias quanto aos problemas do Serpros e da cobertura que vem fazendo a respeito da intervenção, mas tinha que ter também um "Aspas leaks" (risos), para falar, por exemplo, dos nomes dos envolvidos do Serpros no escândalo do HSBC.  Lembro de quando os participantes passaram a ter direito de eleger conselheiros no Serpros, eu participei dessa vitória, outra luta importante.