Dia Internacional da Mulher: entrevista com Irene Marques revela pioneirismo da associada

Entrevista com Irene Marques

Irene, vamos começar pelo presente. Conta um pouco como é o seu dia a dia, o que você faz, do que gosta...
Irene Marques da Silva Marques: Acho que a gente tem que viver cada dia, aproveitar a vida. Eu estou com 67 anos e não perco oportunidades. Faço ginástica, vou à praia, ao teatro, ao cinema, sempre que posso viajo, e continuo trabalhando.
É importante ver o lado positivo das coisas, acordar de manhã, olhar para o céu, ver se o dia está bonito, o que é gratificante, mas, se não estiver, aproveitar para colocar uma roupinha mais quente, diferente, aproveitar também. É claro que não é sempre que acordamos querendo dar bom dia ao mundo, mas quando não for assim, procure uma pessoa que você gosta para te animar. Ficar reclamando é que não adianta. Uma postura pró-ativa diante da vida funciona muito melhor.

Você acha que o envelhecimento influencia nesta postura?
Irene: Não, acho que tudo pode acontecer independente da idade. Comigo, por exemplo, eu sempre quis ter a minha casa. Casei, separei, perdi a casa. E não é que aos 64 anos consegui comprar uma sozinha ?
Lembro que, assim que me aposentei, achei uma chatice ficar em casa, não era o meu perfil. Logo uma vizinha veio me propor trabalhar junto com ela no ramo de seguros, totalmente desconhecido para mim. Topei, fui aprender como funcionava e hoje, graças a este trabalho, posso viajar como gosto. Se dependesse só da aposentadoria, não dava não.
Tem gente que diz que não dá para nada, não é verdade, não existe isso. Acredito que todos podem fazer alguma coisa: pesquisa, vendas, comunicação, ajudar o próximo,  explorar a pessoa que tem dentro de você. Ficar se lamentando "oh vida, oh dia, oh azar" é engraçado no desenho, mas na vida real é uma chatice e afasta as pessoas, elas fogem de você. Tenho essa preocupação até porque tenho dois filhos que moram relativamente longe e não quero ser um problema para eles. Você tendo uma postura boa, acontece o contrário, há aproximação e um ajuda o outro, porque sempre precisamos do outro.

Como você se insere no mundo atual?
Irene: Olha, nós estamos passando por um momento complicadíssimo na política, mas a gente tem que prestar atenção, ler, se interessar, saber o que está acontecendo, protestar. Para mim é importante estar atualizada, posso participar de conversas e me sentir integrada à sociedade. Poderia ser melhor, se o velho fosse valorizado como deveria.

Pessoalmente você enfrentou algum tipo de preconceito ou dificuldade por ser mulher?
Irene: Sim, eu fiz Economia na Cândido Mendes e minha turma foi a segunda de economia em que havia mulheres, mas em um número bem pequeno. Lembro que era proibido usarmos calça comprida, só que lá a gente tinha que subir uma escadaria. Era o tempo da minissaia, então os rapazes ficavam embaixo da escada esperando a gente subir. Eu e outra colega fomos falar com o Sr. Cândido, ele não queria liberar, mas explicamos a situação e pudemos passar a usar calça na universidade, foi uma conquista. Depois, fui barrada no estágio da IBM porque eles não aceitavam mulher, aí fiz prova para o IPEA e fui a primeira estagiária lá. Também fui a primeira mulher a conseguir um estágio na Bozano Simonsen, o chefe era um inglês, quando me conheceu falou, "Ah, Irene é nome de mulher?, eu não sabia".

Na sua opinião,  a igualdade entre os sexos ainda demora para chegar?

Irene: Esse é um problema mundial, é histórico, não é só aqui. Mas vejo com alegria que as mulheres estão lutando, estão muitas vezes em maior número nas universidades, se capacitando. Tem também a questão da criação. Fui criada pela minha avó, porque mamãe já trabalhava fora naquela época, então sempre tive essa dimensão. Criei meus dois filhos ensinando que devem colaborar em casa. Não tem essa de você chegar do trabalho, ir para a cozinha, ver a roupa suja enquanto o marido fica no sofá porque está cansado. Ora, cansada você também está. Não pode aceitar essa sobrecarga. Se eu tivesse tido uma filha, diria a ela para fugir de homens assim. Acho que os filhos, independentemente do sexo, você educa para a vida, para o mundo, não tem uma criação para um e uma para outro, é tudo gente.

E quanto a limites, há restrições para com a terceira idade, em relação à vestimenta, ao comportamento ?

Irene: Para mim, o limite é o da etiqueta, você deve estar adequada para a situação, o ambiente, o horário e para o seu corpo também. Não por conta da idade, mas para não fazer papel de ridículo, o que pode acontecer em qualquer faixa etária.
O que eu sinto é que com a idade, a gente ganha uma certa cara de pau para dizer algumas coisas, mas tem que haver bom senso. Encontrar  esse equilíbrio é complicado. Eu, que não sou dona da verdade, estou procurando o meu (risos), mas quero viver bem, aproveitar. Tem um ditado chinês de que gosto muito. Diz que a vida é uma roda gigante,ora você está lá em cima, e aí vai tudo muito bem, ora você está lá embaixo, na pior. A vida é bem essa roda mesmo,  é dinâmica, então temos que aproveitar quando a maré está do nosso lado.